
Em 1956 o diretor Stanley Kubrick já havia mostrado potencial com O Grande Golpe, mas foi no ano seguinte com Glória Feita de Sangue que ele concebeu a sua primeira obra-prima e pediu passagem no rol dos grandes.
O filme é uma adaptação do livro Paths of Glory do autor Humphrey Cobb, que por sua vez foi baseado na história real de cinco soldados franceses fuzilados por amotinamento.
Kirk Douglas estava determinado a fazer parte do elenco de Glória Feita de Sangue e inclusive chegou a pressionar o estúdio. O ator só aceitaria participar de Vikings, os Conquistadores se o filme de Kubrick saísse do papel e com ele junto. Kirk Douglas sabia que estava diante de algo especial e não poderia perder essa oportunidade.
Ainda que não tenha sido um sucesso comercial, a obra tornou-se um clássico admirado por muitos críticos e cinéfilos. Fazer parte da lista dos 250 filmes mais bem avaliados do IMDb e possuir 95% de aprovação no Rotten Tomatoes são provas disso.
A trama de Glória Feita de Sangue foi uma oportunidade perfeita para Stanley Kubrick tecer uma ferrenha crítica à guerra e a militares que não honram suas posições. Aqui vemos três soldados enfrentando a corte marcial por supostamente terem cometido um ato de covardia durante a Primeira Guerra Mundial. Os oficiais sabiam que a missão era praticamente suicida e mesmo assim não hesitaram em botar a culpa do insucesso em soldados rasos. É a lei do mais forte. A hierarquia pesa muito.
O exército francês só tentou invadir a posição alemã pelo desejo de um oficial ser promovido. A indiferença dele em relação aos seus comandados é revoltante. E esse mesmo oficial é quem realmente pratica atos covardes e reprováveis.
Quanto mais estrelas estampadas no uniforme, menos confiável é o militar. Pelo menos, neste caso.
O idealista coronel Dax tentará de tudo para salvar a vida dos soldados acusados, mas talvez essa seja uma tarefa ainda mais difícil do que o ataque frustrado.
Glória Feita de Sangue investe em uma intensa e curta cena de batalha. Com travellings criativos e fluidos, Kubrick nos aproxima do que estamos vendo. A vida nas trincheiras é retratada com competência e verossimilhança. O próprio Winston Churchill disse que foi uma representação fiel. Não sou eu quem vai discordar.
De qualquer forma, fica evidente que o foco não é a ação e sim toda a sujeira envolvendo a politicagem dos militares de alta patente. Chegamos nos últimos minutos do filme compartilhando o sentimento de Dax de que não há qualquer esperança na humanidade. Com a cena final em que uma alemã canta para um grupo de soldados franceses inicialmente animalescos e depois emocionados, Kubrick faz com que repensemos essa triste sina. Por incrível que pareça, ainda é possível ter um pouco de fé no ser humano.
Nota: 10